Por Gonçalo Julião, gerente de Vendas e Mercados da Pluxee Portugal
Durante anos, o salário tem sido o principal critério na seleção de um emprego. Atualmente, estamos a vivenciar uma mudança de paradigma significativa. Os profissionais não buscam mais apenas uma remuneração competitiva – procuram também significado, propósito, bem-estar e uma experiência profissional que transcenda o tradicional “fazer o que tem de ser feito”.
Pela primeira vez em 22 anos, 91% dos profissionais portugueses afirmam que o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é mais determinante do que o salário na escolha de um emprego, superando os 90% que valorizam a segurança e a remuneração [Randstad – Workmonitor Portugal, Janeiro de 2025]. Nesse contexto, destaca-se o conceito de salário emocional, que se refere a um conjunto de fatores intangíveis que influenciam decisivamente a experiência no trabalho. Isso inclui flexibilidade, autonomia, oportunidades de desenvolvimento, um ambiente saudável e uma cultura de respeito e pertencimento.
Temos observado que, para muitas organizações, isso representa um desafio: deixar de lado um modelo centrado no controle e na compensação financeira em favor de uma abordagem mais relacional. Isso requer escutar ativamente as diferentes necessidades das equipes. Nem todos valorizam os mesmos aspectos, e o salário emocional só terá impacto se for vivido de maneira autêntica e personalizada.
A flexibilidade e autonomia são componentes altamente valorizadas. Horários flexíveis, a possibilidade de trabalho híbrido ou remoto, e gestão orientada a objetivos em vez de controle rígido de horários, são exemplos de como as empresas podem atender a essas necessidades. Essa flexibilidade resulta em uma melhora significativa na qualidade de vida e em uma redução do estresse associado a deslocamentos e à rigidez dos horários tradicionais.
O desenvolvimento e crescimento profissional também constituem um aspecto essencial. Programas de formação contínua, oportunidades de mentoring, planos de carreira personalizados, além de acesso a eventos, conferências e workshops, representam um investimento no futuro do colaborador que vai muito além do salário mensal. Quando um profissional percebe que a empresa se importa genuinamente com seu progresso, estabelece-se uma relação de confiança e comprometimento mútuo que é difícil de quebrar.
O bem-estar e a qualidade de vida no trabalho têm adquirido importância crescente. Seguros de saúde abrangentes, apoio psicológico, acesso a academias e atividades esportivas, espaços de descanso e lazer nas instalações da empresa, além de apoio à conciliação familiar, como creches ou subsídios para cuidados infantis, são exemplos de como as organizações podem demonstrar que se preocupam com seus colaboradores como pessoas e não apenas como recursos produtivos.
Igualmente importante é o reconhecimento e o sentimento de propósito. Colaboradores que se sentem reconhecidos pelo seu trabalho, que participam nas decisões que impactam suas funções, que atuam em um ambiente inclusivo e diverso e que compreendem como suas contribuições se alinham aos objetivos e valores da organização, desenvolvem um forte senso de pertencimento e orgulho, refletindo diretamente em seu desempenho e lealdade à empresa.
Portanto, não se trata de substituir uma remuneração justa, mas de reconhecer que o trabalho é parte integrante da vida e não um elemento dissonante. O que está em jogo não é apenas a atração e retenção de talentos — é a construção de culturas organizacionais mais sustentáveis, onde as pessoas se sintam valorizadas, confiantes e comprometidas.