Em um momento de tranquilidade, no meio da correria do dia a dia, percebo que o intraempreendedor possui “dois lados”, o A e o B, que coexistem e geram uma combinação intrigante. Alguém que habita entre dois mundos: o da ação e o da introspecção, o de falar e o de ouvir, o do impulso e o da reflexão.

Por Rita Oliveira Pelica, Chief Energy Officer ONYOU & Portugal Catalyst – The League of Intrapreneurs

Fala-se frequentemente do intraempreendedor como uma pessoa ousada, inovadora, um agente de mudança dentro da organização. Contudo, por trás dessa imagem energética e visionária, existe uma dualidade que raramente é reconhecida: a do ambivertido.

Por muito tempo, as organizações celebraram o carisma e a extroversão como sinônimos de inovação. Houve uma confusão entre visibilidade e impacto. No entanto, as ideias mais transformadoras raramente surgem em reuniões barulhentas; elas se manifestam no silêncio, quando alguém se permite observar o problema sob uma nova perspectiva ou reconhecer os “elefantes na sala”. O intraempreendedor necessita desse espaço para pensar, questionar e conectar ideias antes de sugerir soluções.

A ambiversão, que representa a habilidade de transitar entre a energia social e a profundidade individual, é uma competência estratégica. Inovar não se resume a saber falar; é, sobretudo, saber ouvir. Não se trata apenas de propor, mas também de entender o contexto. É reconhecer quando insistir e quando pausar. É equilibrar a chama da iniciativa com a lucidez da análise, evitando cair em extremos.

Entretanto, é importante destacar que a introspecção, por si só, não é suficiente. A ideia que não é compartilhada morre na gaveta ou permanece no obscuro da imaginação. O intraempreendedor também precisa do lado sociável, aquele que conecta, inspira e contamina. É no diálogo que a inovação se impulsiona e ganha força; é na colaboração que as ideias se tornam sinergicamente reais.

Ser intraempreendedor significa, portanto, viver constantemente entre o palco e os bastidores: um dia brilhando sob a luz dos holofotes, no outro se afastando para amadurecer o que aprendeu.

Esse movimento incessante é desafiador. A pressa da ação seduz, mas o silêncio da reflexão revela. A sociabilidade aproxima, mas é na solidão que se encontra o sentido e a oportunidade de explorar ideias com “paz de espírito”. O intraempreendedor compreende que transformar é um ato de escuta profunda, tanto dos outros quanto de si mesmo. E talvez o maior sinal de maturidade seja reconhecer que a dúvida possui tanto valor quanto a certeza. Saber que se sabe algo, mas não tudo.

No fundo, a inovação ocorre quando a curiosidade encontra um propósito. Quando o entusiasmo do coletivo se combina com o pensamento crítico individual. Quando a organização percebe que velocidade sem direção é apenas agitação, e que o silêncio pode ser um excelente fertilizante para o futuro.

Talvez a pergunta essencial não seja “como podemos ser mais criativos?”, mas sim: “estamos criando contextos onde as pessoas possam pensar, duvidar, questionar e escutar?” Ou estamos apenas correndo desenfreadamente em direção aos objetivos? E se o verdadeiro desafio das organizações for entender que é entre a conversa e o silêncio que surge esse impulso intraempreendedor transformador? Ambivertidos, revelem-se.

Este artigo foi publicado na edição de Outubro (nº. 178) da Human Resources

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