Por Alexandra Barosa, diretora executiva do Curso de Coaching Executivo da Nova SBE e Managing partner da ABP Corporate Coaching

No mês de agosto, fomos confrontados com mais uma tragédia causada por fogos florestais, especialmente na região norte do país. A liderança política foi novamente criticada por parecer desconectada das necessidades e problemas imediatos dos cidadãos.

No entanto, a questão central talvez não resida apenas no direito de cada um desfrutar das suas férias. O verdadeiro enfoque deve ser a carência de proximidade entre a liderança e as necessidades de quem é liderado, uma proximidade que deve ser mantida não apenas em momentos de crise, mas que deve se refletir em um acompanhamento contínuo ao longo do tempo. A liderança próxima caracteriza-se pela capacidade dos governantes de manter um contato direto e contínuo com os cidadãos, ouvindo as suas preocupações e convertendo-as em políticas públicas que estejam mais alinhadas com as realidades locais.

A liderança de proximidade é um estilo que se foca nas relações humanas, na escuta ativa e no acompanhamento próximo de indivíduos, equipas e comunidades. Diferencia-se de abordagens mais hierárquicas e distantes ao valorizar a interação direta e frequente entre líderes e liderados, promovendo a confiança e a motivação para a participação em resultados coletivos.

Mas será que isso não é algo já amplamente reconhecido? Não aponta a experiência nessa direção?

Se assim fosse, os líderes do poder central estariam ouvindo regularmente as comunidades fora dos grandes centros urbanos para compreender a realidade e implementar medidas de prevenção, não apenas de reação; os líderes do poder local não esperariam os meses que antecedem as eleições para agir e não estariam apenas “visitando” as comunidades nesse período, onde se detêm para cumprimentar e conhecer as necessidades específicas; e os líderes nas organizações teriam o cuidado de alinhar resultados com as necessidades individuais, criando ambientes de segurança psicológica.

Na prática, a liderança de proximidade proporciona um impacto positivo no bem-estar e no desempenho das equipas e das comunidades em geral. Em Portugal, em particular, onde valorizar as relações humanas é fundamental para mobilizar ação, líderes que demonstram abertura e apoio, reconhecem erros e participam de forma mais ativa na aprendizagem coletiva podem identificar precocemente sinais de sobrecarga emocional ou falhas nos processos, prevenindo riscos e aumentando a resiliência coletiva.

Quando não se cultiva essa proximidade, corre-se o risco de exercer uma liderança que se extingue sem ser percebida: um fogo lento de afastamento, indiferença e desgaste que consome a confiança e a credibilidade, muitas vezes sem que os próprios líderes se deem conta, pois vivem num mundo exclusivamente seu. É nessa falta de escuta, empatia e presença que a distância se instala e a liderança perde sua capacidade mobilizadora, deixando comunidades e equipas mais vulneráveis diante das adversidades.

Exit mobile version
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.

Strictly Necessary Cookies

Strictly Necessary Cookie should be enabled at all times so that we can save your preferences for cookie settings.