Há algum tempo, mencionou-se Marcos Perestrello (que esteve mesmo em cima da mesa) e até surgiram rumores sobre João Maria Jonet (que se ficaram por aí), mas o PS avança com o presidente da concelhia, João Ruivo, na tentativa de reconquistar a liderança da autarquia de Cascais, que já lhes escapa há 24 anos. No entanto, os resultados das últimas seis eleições autárquicas obrigam a uma abordagem cautelosa. Ganhar é a ambição, claro – nenhum candidato do PS poderia afirmar o contrário – mas é necessário “ter os pés assentes na terra”.
Sobre Nuno Piteira Lopes, candidato pela coligação PSD/CDS, João Ruivo faz algumas observações, mas mantém gestos de fairplay em relação ao adversário. Por exemplo, concorda que a constituição de arguido não é motivo suficiente para abandonar um cargo político – uma ideia também defendida pelo social-democrata, ao ser questionado sobre eventuais consequências futuras na investigação dos negócios da Câmara Municipal de Cascais para a construção do Hotel Hilton. Essa decisão, explica João Ruivo, cabe à consciência de cada um.
Ele também adota uma postura sóbria quando o assunto é a Quinta dos Ingleses, a questão que continua a gerar desconforto junto à Praia de Carcavelos. O PS teria feito diferente, sim, mas não é uma questão de entrar em utopias. Reitera que se trata de um terreno privado e que, por isso, mesmo que o objetivo continue a ser lutar pela preservação do espaço, os interesses do proprietário devem ser salvaguardados.
A estratégia do PS em Cascais parece ser essa: não se trata de apenas criticar ou apontar erros, mas sim de sugerir soluções ou destacar situações em que as coisas poderiam estar a funcionar melhor. A diferença pode parecer sutil, mas é significativa para entender a postura de João Ruivo na campanha e nesta entrevista. É notório que se esforça por se afastar do tom que caracteriza outras candidaturas, e menciona várias vezes a necessidade de ser “sério” ou “intelectualmente honesto” nesta corrida.
Para João Maria Jonet, candidato independente a Cascais, a situação é diferente. O jovem consultor político chegou a confirmar contactos com o PS para um possível apoio à candidatura que acabou por avançar, mas com João Ruivo, presidente da concelhia e figura fundamental na decisão, ninguém conversou. E ainda bem, provoca o candidato. É que para ser presidente é necessário alguém “que tenha cá estado”.
Começamos na Baía de Cascais, mas vamos falar do local por onde acabamos de passar: a Câmara Municipal. O que é que tem corrido mal nestes 24 anos, que mantêm o PS afastado da liderança da autarquia?
Não há como esconder, as propostas, tanto de candidatos quanto de ideias, que o PS apresentou não têm sido as preferidas pela população e pelos eleitores. A saída de José Luís Judas [último Presidente da Câmara de Cascais do PS] deixou algumas marcas no início destes 24 anos. Na altura, criou-se uma percepção não muito correta sobre aquilo que foi o mandato do PS na Câmara de Cascais. Mas essa percepção passou, e durante os primeiros mandatos, as primeiras eleições, ainda havia um peso muito grande sobre a herança de José Luís Judas. Temos conseguido fazer uma oposição responsável e, com certeza, há algum mérito dos nossos adversários.
Mas não há o risco de que esta tendência do PSD sempre em primeiro lugar se torne na realidade a que já está habituado o povo de Cascais? Ou seja, que o PS fique visto como um partido eternamente da oposição?
Não acredito que isso aconteça. O Partido Socialista continua a ser o maior partido em Cascais na maioria das eleições. Tem vencido as legislativas, quando o PS ganha a nível nacional, e tem sido vitorioso nas eleições europeias no concelho. O eleitorado do concelho de Cascais não é claramente um eleitorado só de direita, como muitos afirmam. Nas eleições locais, o projeto e as candidaturas, que neste caso foram de António Capucho e Carlos Carreiras, foram aceitas pela população. Mas isso não implica que o PS, enquanto partido no Concelho, seja constantemente relegado para o segundo lugar. Pelo contrário, tem sido mais vezes primeiro em um conjunto de todas as eleições do que o PSD.
E o que explica essa diferença entre os resultados?
Há uma explicação inicial: o CDS em Cascais tinha um apoio forte, no início. No começo desta coligação, o PS continuava a ser o maior partido em Cascais, mas o PSD e o CDS juntos sempre tinham mais votos que o PS. Conseguiram, com isso, consolidar uma ideia, uma maioria, uma coligação que se manteve forte ao longo dos anos. Isso tem feito com que o PS, por si só, ainda não tenha conseguido destroná-la.
Estamos a chegar aqui ao primeiro ponto que nos indicou, a chamada Rotunda do Jumbo. E estamos perto do centro de saúde.
Escolhi este ponto para demonstrar o que falta hoje: renovar Cascais. Estamos a observar novas construções, muitos apartamentos. Estamos perante o CascaisVilla, que está a ser demolido, e esta área, com as mesmas estradas de sempre, vai ficar completamente intransitável quando todos esses apartamentos forem ocupados. Essa é uma questão importante hoje. Toda a construção que está a ser realizada é para o luxo, e o luxo tende a buscar o centro de Cascais, as áreas mais nobres. E sem infraestrutura de apoio, não podemos continuar a atrair pessoas para o centro, a construir apartamentos e, em seguida, não ter alternativas infraestruturais. Aqui à esquerda é onde está a ser construído o centro de saúde de Cascais. O município tem cumprido bem o papel que seria do Governo no que diz respeito ao apoio à construção de novas infraestruturas. Não seria intelectualmente honesto dizer que não fizeram nada. Fizeram: o centro de saúde de Carcavelos, o centro de saúde de Cascais, em termos de infraestrutura, estão a providenciar esse suporte e estão a cumprir. Mas a saúde depende em 70% de outros fatores que não do centro de saúde ou do hospital. O tratamento da doença representa 30% da nossa saúde; 40% depende da nossa situação socioeconômica. E 30% da nossa saúde está relacionada com nossos hábitos alimentares e de atividade física. E aí a Câmara pode fazer algo e contribuir para a nossa saúde.