O Festival Crivo, que tem como objetivo destacar a produção musical feminina, teve sua abertura nas Carpintarias de S. Lázaro, em Lisboa, com um concerto do Grupo Coral Olisipo.
O festival busca dar visibilidade à produção musical das mulheres compositoras, que muitas vezes é ignorada, apesar de ser “extraordinária”, conforme declarou à agência Lusa a criadora e diretora artística, Luísa Correia Silva.
No concerto de hoje, às 21h00, o grupo, sob a direção do barítono Armando Possante, apresentará obras de Barbara Strozzi, Berta Alves de Sousa, Cássia de Constantinopla, Clara Schumann, Eleonora d’Este, Hildegard von Bingen e Ilse Weber, entre outras.
A programação do festival, que acontecerá até 2 de outubro, inclui quatro concertos, todos comentados, a estreia nacional do filme “Fanny: The Other Mendelssohn” (2023), de Sheila Hayman, uma conferência do musicólogo Rui Vieira Nery, e um fórum sobre o ensino da música.
Os concertos contarão com comentários da musicóloga Inês Thomas Almeida, curadora do Crivo, que ocorrerão nas Carpintarias de São Lázaro, na Fundação Calouste Gulbenkian, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência e no Instituto Goethe.
Em declarações feitas em agosto, Luísa Correia Silva destacou à Lusa que “as programações de concertos, os catálogos das discográficas e os manuais escolares não fazem jus à vasta produção musical que foi realizada ao longo da história pelas mulheres compositoras, que têm um trabalho extraordinário que permanece desconhecido”.
A diretora artística acrescentou: “Enquanto as compositoras estavam vivas, eram muito influentes, premiadas, reconhecidas e profissionalizadas. Temos [documentação] de tudo isso, mas parece que, após sua morte, sua obra é esquecida. O problema não é a escassez de compositoras ou a opressão que enfrentaram, mas sim como contamos essa história e como oferecemos essa narrativa”.
Muitas mulheres compuseram e fizeram sua música ser ouvida, superando diversos obstáculos, sejam eles familiares ou no acesso a salas de concerto.
“Ao analisarmos os números, notamos que a representatividade e inclusão das compositoras ainda estão muito aquém do que poderiam ser”, enfatizou a responsável, observando que, na prática, “não se está a ser justo e inclusivo com o trabalho das mulheres compositoras”.
A programação do Crivo apresenta obras de compositoras desde Cássia de Constantinopla (810-865) até a contemporânea Ângela da Ponte, abrangendo diversas estéticas musicais e nacionalidades. Os detalhes da programação estão disponíveis no site do Crivo.