Não é surpreendente que alguém que, por exemplo, lesiona um joelho após uma queda necessite de um tipo de fisioterapia diferente de quem sofre de insuficiência respiratória ou de uma doença de Parkinson. As patologias são distintas, as pessoas têm necessidades específicas e, por isso, a fisioterapia deve ser adequada. Assim como em outras profissões da saúde, a fisioterapia é também subdividida em especialidades. O objetivo é garantir que os cuidados prestados aos pacientes atendam a altos padrões de qualidade e, ao mesmo tempo, permitir o desenvolvimento profissional contínuo dos fisioterapeutas em suas áreas de escolha.
Em Portugal, a criação de especialidades é um desenvolvimento recente, tendo ocorrido a publicação, em abril deste ano, do Regulamento Geral das Especialidades Profissionais de Fisioterapia no Diário da República. Foram formalmente instituídas três especialidades: Fisioterapia Cardiorrespiratória, Musculoesquelética e Neurológica. Isso significa que os profissionais que atendem aos requisitos podem agora solicitar o título de fisioterapeuta especialista em uma ou mais dessas áreas, desde que reúnam os critérios necessários.
A aprovação deste regulamento pelo Ministério da Saúde é considerada um marco histórico para a evolução da profissão e resulta de um processo iniciado em 2020, durante o período de instalação da Ordem dos Fisioterapeutas, com ampla participação.
A implementação das especialidades está em andamento de forma gradual, iniciando pela criação dos colégios de especialidade, a abertura do sistema de candidaturas e a operacionalização dos mecanismos de acreditação e acreditação de atividades formativas. Paralelamente, foram aprovados os regulamentos de Acreditação de Atividades Formativas e de Acreditação de Atividades de Desenvolvimento Profissional Contínuo, que terão o papel de assegurar a qualidade da formação complementar e a atualização contínua dos fisioterapeutas.
De acordo com a Ordem, “a criação das especialidades representa não apenas um reforço da credibilidade e diferenciação da profissão, mas também uma garantia adicional para os pacientes, que agora poderão contar com cuidados prestados por fisioterapeutas com competências avançadas reconhecidas”.
Um fisioterapeuta especialista é um profissional que solicitou e obteve o título, que é concedido pela Ordem após um processo que verifica se ele atende às condições exigidas. Para se tornar especialista, o fisioterapeuta deve comprovar que possui competências transversais relacionadas à fisioterapia em geral e às demais especialidades, além de um conjunto de competências próprias na área da respectiva especialidade. Entre os pré-requisitos para candidatura ao título de especialista estão fatores como ter mais de dez anos de experiência como fisioterapeuta e, pelo menos, três anos de experiência profissional na área da especialidade a que se candidata.
Em situações de doenças com impacto cardiorrespiratório, a fisioterapia é frequentemente utilizada. O objetivo é contribuir para uma melhor oxigenação do organismo, reduzir sintomas como falta de ar, fadiga, tosse e presença de secreção, além de aumentar a tolerância à atividade física e estimular a capacidade de realizar atividades diárias.
Entre as doenças que podem levar ao uso da Fisioterapia Cardiorrespiratória estão a asma, infecções respiratórias agudas (como pneumonia e bronquiolite), doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), fibrose cística, fibrose pulmonar, insuficiência respiratória e câncer de pulmão, entre outras. Em alguns casos, como em pacientes acamados ou com mobilidade reduzida, ou após cirurgias torácicas ou abdominais, pode haver necessidade de recorrer a esta especialidade da fisioterapia.
Existem diversas técnicas utilizadas, especialmente relacionadas à limpeza das vias aéreas (remoção de secreções e expetoração), controle respiratório, fortalecimento da musculatura respiratória e reabilitação cardíaca.
A Fisioterapia Musculoesquelética é uma das áreas mais populares e foca na prevenção, tratamento e reabilitação de disfunções relacionadas a músculos, articulações, ligamentos, ossos e tendões. Esta abordagem tem como meta reduzir a dor, restaurar a mobilidade e melhorar a funcionalidade do corpo. Além disso, a fisioterapia musculoesquelética diminui o tempo de recuperação e otimiza a autonomia do paciente, permitindo, sempre que possível, o seu retorno às atividades diárias.
A Fisioterapia Musculoesquelética é adequada para várias situações, incluindo problemas na coluna vertebral (como dor lombar e cervical, hérnia discal, dor ciática, torcicolo, escoliose), nos membros superiores (como tendinite, recuperação pós-fratura, síndrome do túnel do carpo, luxação do ombro) e inferiores (artrose de quadril e joelho, recuperação após a colocação de prótese, fasciíte plantar, desvio da rótula).
Outra especialidade de grande relevância é a Fisioterapia Neurológica, que trata problemas do sistema nervoso central e periférico. Essa especialidade pode atuar em casos de acidente vascular cerebral (AVC), doenças como Alzheimer e Parkinson, esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica, lesão cerebral e traumatismo cranioencefálico, entre outras situações.
Com o devido acompanhamento de um especialista, é possível avaliar as sequelas neurológicas, trabalhando não apenas para tratá-las, mas também para prevenir o surgimento de sintomas associados à progressão da doença ou lesão. O objetivo sempre é contribuir para a autonomia e qualidade de vida do paciente.
