Todos os anos, o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio (10 de Setembro) lembra-nos da importância de abordar a saúde mental. O Setembro Amarelo é uma campanha internacional de conscientização e um convite à ação: desmistificar o tema, reduzir o estigma e destacar um problema de saúde pública que afeta milhares de pessoas em todo o mundo. A psicóloga clínica Cátia Silva, especializada em Ansiedade, Depressão, Autoestima, Luto, Burnout e PHDA, discute os sinais aos quais devemos estar atentos.
Em Portugal, cerca de 900 pessoas perdem a vida devido ao suicídio anualmente. São vidas que são interrompidas e, apesar destes números, o assunto ainda permanece envolto em silêncio. Existe, na nossa sociedade, o mito de que discutir o suicídio gera “ideias na cabeça”. No entanto, a ciência demonstra que promover diálogos de maneira responsável e empática é uma das principais formas de prevenção (OMS, 2021).
Cátia Silva explica que, para compreender melhor esta realidade, é essencial reconhecer que o suicídio não é resultado de uma única causa; «trata-se de um fenômeno multifatorial, que resulta da interação de fatores psicológicos, biológicos, sociais e culturais. Analisando os fatores de risco individuais, como depressão, consumo de álcool ou doenças crônicas, percebemos que, embora sejam relevantes, não explicam toda a situação. Nesse sentido, é crucial considerar o papel do contexto».
De acordo com a psicóloga, a nossa realidade atual tem favorecido o aumento do sofrimento psicológico:
. Crise económica e inflação: as famílias enfrentam dificuldades para garantir suas necessidades básicas.
. Desemprego e precariedade laboral: a insegurança no trabalho contribui para a desmotivação e o desespero.
. Solidão e envelhecimento: Portugal é um dos países mais envelhecidos da Europa, onde muitos idosos vivem isolados e sem rede de apoio.
. Impacto da pandemia: a COVID-19 deixou marcas profundas na saúde mental.
. Desigualdade no acesso a cuidados de saúde mental: tempos de espera longos continuam a limitar a prevenção precoce.
Considerando todos esses fatores, fica claro que a prevenção do suicídio não é apenas uma tarefa clínica, mas também social e política. «Se não levarmos em conta a realidade socioeconômica, estaremos sempre olhando para o problema de forma incompleta», destaca Cátia.
Compreendendo a complexidade do fenômeno e os fatores que o agravam, é igualmente fundamental saber reconhecer os sinais de alerta e suas manifestações em diferentes áreas:
. Comportamentos: desfazer-se de bens valiosos, descuidar da higiene pessoal, mudanças inesperadas de humor, organizar “assuntos”.
. Conversas: discutir abertamente sobre suicídio, afirmar que não vê futuro, expressar auto-desvalorização.
. Sentimentos: apatia, irritabilidade, sensação de fracasso ou inutilidade, desespero.
. Acontecimentos de vida: perda de um familiar, rompimentos amorosos, problemas familiares, desemprego.
Embora os sinais de risco sejam evidentes, também é importante lembrar que existem fatores de proteção que ajudam a diminuir a vulnerabilidade: bons relacionamentos, suporte familiar, emprego, projetos significativos, religiosidade ou integração comunitária.
Assim, a prevenção deve ocorrer em várias frentes:
Na sociedade: reduzir desigualdades, investir em saúde mental e combater o estigma.
Na comunidade e família: escutar sem julgamentos, estar presente, conhecer os recursos de apoio.
A nível individual: procurar ajuda especializada, fortalecer estratégias de enfrentamento, investir em relações significativas.
«O suicídio não é uma escolha livre. É uma reação ao sofrimento quando a dor se torna insuportável e a pessoa não consegue ver alternativas. Falar sobre o assunto, estar atento aos sinais e garantir condições sociais mais justas são partes essenciais da equação», enfatiza a psicóloga.
Recursos disponíveis em Portugal
Saber a quem recorrer em momentos de crise é vital:
SNS 24: 808 24 24 24
SOS Voz Amiga: 213 544 545 | 912 802 669 | 963 524 660
Linha de Apoio Psicológico: 800 209 899
CAPIC (Centro de Apoio Psicológico e de Intervenção em Crise).