Por Sara de Sousa, COO & head of People da Portocargo
Durante anos, a logística permaneceu fora dos holofotes, funcionando como o motor silencioso que sustenta a economia. É responsável por garantir que as mercadorias cheguem ao seu destino no tempo certo. Neste setor, a prioridade sempre foi garantir operações eficientes e responder a desafios diários, que podem variar desde picos sazonais até alterações inesperadas e disrupções na cadeia de abastecimento.
Esse foco intenso na operação, comum a muitos transitários e operadores logísticos ao redor do mundo, historicamente fez com que a Gestão de Pessoas não estivesse no centro das estratégias. Não por falta de reconhecimento interno, mas devido à pressão e ao ritmo acelerado do dia-a-dia, que priorizavam respostas imediatas.
Com a pandemia, esse paradigma mudou radicalmente. De repente, tornou-se evidente que, sem transitários e operadores logísticos coordenando fluxos, gerenciando cargas e assegurando que cada elo da cadeia de abastecimento funcionasse, a economia global pararia. A experiência e o conhecimento das equipes tornaram-se elementos cruciais de resiliência e diferenciação no mercado. Os clientes passaram a valorizar a continuidade, enquanto as empresas começaram a entender o custo real da rotatividade, reconhecendo que reter talento é um investimento estratégico com alto retorno (ROI).
Um dos grandes desafios do setor é a falta de profissionais qualificados e com formação técnica específica. Preparar profissionais para a logística de hoje e do futuro exige a atração de jovens e um investimento ativo em sua capacitação. Não podemos esperar que o mercado forneça especialistas prontos; é necessário desenvolvê-los. Isso envolve a criação de percursos de aprendizagem estruturados, proporcionando experiência prática e desenvolvendo competências que conectem o know-how técnico a uma visão estratégica da cadeia de abastecimento.
Quando a retenção de talento se torna uma prioridade, os benefícios vão além da estabilidade. Mantêm-se competências críticas, reduz-se o risco operacional, fortalecem-se as relações com clientes e aumenta-se a eficiência e agilidade na adoção de novas tecnologias. Para conseguir isso, é essencial melhorar a employee experience, implementar políticas de desenvolvimento interno e elaborar planos de carreira, garantindo que as equipes vejam um futuro promissor na empresa.
Outro aspecto fundamental é o employer branding, ainda pouco explorado no setor logístico. Historicamente, não fomos uma área preocupada em “vender” nossa marca como empregador, mas essa realidade está finalmente mudando. As novas gerações chegam às entrevistas mais informadas e, muitas vezes, assumem um papel ativo, questionando o que a empresa pode oferecer e como se diferencia das outras. Atender a essa expectativa requer propostas de valor claras, que incluam desenvolvimento profissional, estabilidade, uma cultura de bem-estar e oportunidades reais de crescimento, para atrair e reter talento em um mercado cada vez mais competitivo.
Rotas eficientes, infraestrutura moderna e tecnologias avançadas, incluindo a inteligência artificial para otimizar processos, são essenciais para oferecer valor ao cliente. No entanto, o que realmente distingue uma empresa são as pessoas que fazem tudo acontecer.
São elas que transformam recursos em soluções, criam relações de confiança e mantêm a operação funcionando mesmo em momentos desafiadores. Investir no bem-estar, desenvolvimento e motivação das equipes é garantir que o futuro da logística se construa com talento, conhecimento e relações duradouras que tornam as empresas únicas.