Por António Saraiva, gestor de Desenvolvimento de Negócios_ISQ Academy
Os incêndios florestais constituem uma ameaça crescente à segurança, biodiversidade e economia de vários países, especialmente em Portugal. Os números e o impacto continuam a ser alarmantes. Embora o número de vítimas seja significativamente inferior ao de 2017, isso não deve levar à minimização da situação. Para enfrentar este desafio, é crucial integrar abordagens inovadoras que transcendem a tecnologia e a logística.
A economia comportamental e a liderança com impacto oferecem ferramentas valiosas para compreender e influenciar os comportamentos humanos, melhorar a coordenação institucional e fomentar uma cultura de prevenção. Embora as estatísticas relacionadas ao fogo posto sejam relevantes, a análise deste fenômeno é mais complexa. Trata-se de um risco real e significativo, que exige uma análise minuciosa na sua raiz.
O foco da economia comportamental consiste, basicamente, em estudar como as pessoas tomam decisões na prática, frequentemente influenciadas por emoções, hábitos e contextos sociais. No contexto dos incêndios florestais, essa abordagem é poderosa para incentivar comportamentos preventivos, promovendo os chamados nudges para estimular a limpeza de terrenos, campanhas que evidenciem os custos econômicos e ambientais associados, além de recompensas simbólicas para comunidades que adotam boas práticas florestais. Há iniciativas em meio acadêmico que buscam quantificar o valor econômico dos incêndios, promovendo decisões mais informadas por parte de proprietários e gestores florestais. Pode ser o momento de tornar isso mais visível e intensificar o apoio à sua aplicação. Este é um passo fundamental, embora não seja a solução completa.
Deve-se também considerar que a liderança com impacto não é mais do que uma coordenação para a ação efetiva. Está comprovado que estruturas organizacionais complexas, seja em sua verticalidade funcional ou em um emaranhado de redes de reporte, são geralmente ineficientes, acarretando riscos significativos nos resultados e na eficácia desejada. Especialistas afirmam que a liderança é um fator crítico de sucesso em todas as fases de combate aos incêndios, seja na prevenção, resposta ou recuperação. Liderança com impacto significa ser proativo: antecipar riscos, preparar as comunidades e promover formação contínua e simulações, especialmente em áreas de risco evidente. Além disso, é fundamental que haja colaboração entre diferentes entidades (proteção civil, bombeiros, municípios, proprietários) e a criação de estruturas de comando unificadas e permanentes. Também é necessário que essa abordagem seja sistêmica, com políticas sustentadas e não apenas reativas.
A forma como indivíduos e comunidades respondem a situações de risco é profundamente influenciada por fatores psicológicos. Existe uma psicologia de decisão em situações de emergência, que considera aspectos comportamentais como a percepção de risco — frequentemente subestimada — o pânico e o bloqueio, os quais podem comprometer decisões racionais e o engajamento comunitário, vital para o aumento da resiliência e capacidade de resposta. É importante reconhecer o esforço das populações em proteger seus bens, mesmo sob risco de vida.
Já existem políticas de comportamento ambiental, especialmente a nível comunitário, para enfrentar este problema. No entanto, a mera definição de políticas não é suficiente; é necessário implementá-las e monitorá-las. É essencial divulgar e promover compromissos de execução. Incentivos à cooperação entre proprietários, seleção de espécies menos inflamáveis e práticas agrícolas sustentáveis são alguns exemplos de iniciativas que devem ser implementadas. Qual é o nível de implementação e que resultados já podem ser observados? Responder a essas perguntas é crucial.
Em resumo, o combate aos incêndios florestais exige mais do que recursos técnicos. É necessária uma compreensão profunda do comportamento humano e uma liderança que consiga mobilizar, coordenar e inspirar. Os fatores da economia comportamental e da liderança com impacto podem transformar a forma como se previne e responde a esse desafio, promovendo comunidades mais seguras, resilientes e conscientes. Há uma série de situações que podem desencadear incêndios, mas todos têm um papel a desempenhar na minimização dos riscos.