A HAVI, uma multinacional especializada em soluções integradas para a cadeia de abastecimento, logística e tecnologia, selecionou Lisboa como sede do seu centro global de inovação tecnológica. Para Daniela Ribeiro, diretora de Transformação Tecnológica do HAVI TechHUB, essa decisão reflete o reconhecimento do talento local, do dinamismo do ecossistema tecnológico de Lisboa e da afinidade com os valores portugueses de inovação, colaboração e visão de futuro.
Por Tânia Reis
Atualmente, o HAVI TechHub conta com uma equipe de 80 profissionais, com planos de crescimento para 150 nos próximos meses. O centro também receberá um investimento de cerca de 200 milhões de euros nos próximos anos, contribuindo diretamente para o desenvolvimento econômico local e para o posicionamento de Lisboa como um polo tecnológico global.
O HAVI TechHUB está prestes a inaugurar novas instalações em Lisboa. Quais fatores influenciaram a escolha da capital portuguesa?
Lisboa foi uma escolha não apenas estratégica, mas também emocional. Assim que chegamos, sentimos imediatamente a abertura e a energia da cidade. Lisboa oferece uma combinação única de excelência técnica e calor humano. As pessoas são criativas, adaptáveis e genuinamente colaborativas, e é exatamente essa mentalidade que queremos para o nosso TechHUB.
Há algo profundamente inspirador na maneira portuguesa de agir: uma resiliência tranquila, uma determinação serena e uma capacidade de encontrar soluções em tempos de incerteza. Isso reflete o espírito que desejamos cultivar – um ambiente onde a tecnologia e a humanidade andam de mãos dadas. Para nós, Lisboa é mais do que uma localização; é uma comunidade que compartilha nossa convicção de que a inovação não é apenas o que construímos, mas também a forma como fazemos isso juntos.
Como será distribuído esse investimento significativo? Existem áreas prioritárias?
Sim, é um investimento significativo, mas o vejo mais como um investimento em pessoas e cultura do que em infraestrutura. Estamos reforçando nossas competências em inteligência artificial, dados, automação e cloud, mas também investindo em comportamentos e práticas de liderança que possibilitam que essas tecnologias gerem impacto real. A transformação não ocorre apenas por meio das ferramentas; acontece quando as pessoas se sentem empoderadas a agir, questionar e tomar a iniciativa. Por isso, parte do nosso investimento está direcionada a aprendizado, experimentação e à criação de um espaço seguro para inovar.
Estamos igualmente focados na sustentabilidade e na responsabilidade digital, ou seja, em construir um ecossistema tecnológico que não apenas desempenhe bem, mas que também se preocupe: com as pessoas, com a ética dos dados e com o nosso futuro coletivo.
Qual impacto espera que esse investimento tenha no ecossistema tecnológico português?
Espero que se torne uma ponte que conecte a experiência global à criatividade local.
Portugal possui um ecossistema tecnológico incrível, repleto de talento e paixão. Se conseguirmos contribuir para isso, compartilhando conhecimento, criando oportunidades e promovendo colaborações, então nosso investimento será realmente significativo.
Recentemente, como equipe de liderança, temos nos questionado: ‘Quem estamos nos tornando, juntos?’ Essa pergunta se aplica não apenas dentro da HAVI, mas também à maneira como nos envolvemos com a comunidade.
Não queremos ser apenas uma empresa que opera em Portugal. Desejamos ser uma empresa que pertence, que ouve, aprende e cresce junto ao ecossistema local.
O HAVI TechHUB está expandindo sua equipe em Lisboa para cerca de 150 profissionais. Que perfis estão buscando nessa nova fase de crescimento?
Buscamos pessoas com habilidades técnicas e profundidade humana. Claro, valorizamos a especialização em áreas como IA, automação, engenharia de dados e arquitetura de cloud. No entanto, as pessoas que realmente prosperam na HAVI TechHUB são aquelas que trazem curiosidade, empatia e coragem, e que gostam de resolver problemas complexos em equipe.
Costumamos dizer que recrutamos tanto pela mentalidade quanto pelas habilidades. A tecnologia evolui rapidamente, mas comportamentos como adaptabilidade, gratidão e abertura são atemporais. Por isso, procuramos pessoas que não desejam apenas trabalhar; querem crescer. Pessoas que veem a tecnologia como uma oportunidade de fazer a diferença.
Como é feita a identificação e atração de talentos?
Para nós, atrair talentos começa com a criação de conexões. Buscamos ter conversas autênticas com os candidatos, não apenas sobre o que sabem fazer, mas sobre quem são e o que os motiva. Muitos dos nossos melhores talentos surgiram de relações, redes e projetos compartilhados, mesmo antes de havermos aberto vagas. Colaboramos com universidades, participamos de eventos comunitários e abrimos as portas a jovens profissionais curiosos sobre tecnologia aplicada à cadeia de abastecimento. Lisboa, naturalmente, é um imã para talentos diversos. Porém, o que realmente faz as pessoas permanecerem é o sentimento de pertencimento. Elas entram pelo desafio e ficam pela cultura.
Quais competências técnicas e comportamentais são mais valorizadas nesta nova fase de crescimento?
A competência técnica será sempre importante – IA, automação, cloud, dados – mas são os comportamentos que sustentam essas competências que realmente moldam o futuro. Vivemos em uma era em que as habilidades evoluem mais rápido do que nunca. O que permanece são comportamentos: curiosidade, adaptabilidade, mentalidade de busca por soluções, determinação, empatia e gratidão.
Falamos muito sobre a forma como nos apresentamos diariamente, como ouvimos, comunicamos e lideramos. Estas não são apenas soft skills; são práticas atemporais que geram confiança, coesão e desempenho. Costumo dizer às nossas equipes: a tecnologia pode mudar as ferramentas que usamos, mas é a conexão humana que mantém a inovação viva.
De que forma os valores portugueses se refletem na cultura da empresa?
Há uma força tranquila na cultura portuguesa que admiro profundamente – a capacidade de manter a calma sob pressão, encontrar soluções criativas e cuidar dos outros enquanto avançamos. Esses valores alinham-se perfeitamente com o DNA da HAVI: fazer o que é certo, respeitar e valorizar todos, elevar clientes e pessoas, e pensar grande, juntos. São valores que orientam a forma como nos conectamos, colaboramos e lideramos todos os dias.
No nosso TechHUB em Lisboa, essa fusão do global com o local cria algo verdadeiramente especial. Podemos entrar em uma reunião e ouvir cinco sotaques diferentes, mas há um tom comum: respeito, abertura e vontade de aprender uns com os outros. É assim que os valores portugueses se manifestam na nossa cultura – por meio da empatia, da humildade e do propósito.
Quais são os planos para a integração com a comunidade local e o setor tecnológico português?
A integração não é algo que acontece uma vez; é algo que se vive diariamente. Estamos construindo relacionamentos com universidades e startups para promover a co-inovação e a aprendizagem. Nossos programas de estágio já nos conectam a jovens talentos portugueses que trazem uma energia e criatividade incríveis.
Mas não se trata apenas de parcerias. Trata-se de presença; de estar nos eventos locais, de contribuir para as conversas sobre o futuro da tecnologia e de compartilhar o que aprendemos ao longo do caminho. Queremos crescer com o ecossistema, não ao lado dele.
De que forma a inteligência artificial está sendo integrada nas operações e soluções desenvolvidas pela HAVI TechHUB? E qual impacto tem tido?
A inteligência artificial está transformando nossa maneira de operar, desde a previsão de demanda até a otimização logística e a melhoria na tomada de decisões. Contudo, seu maior impacto não está na automação, mas na amplificação. A IA nos ajuda a libertar as pessoas de tarefas repetitivas, permitindo-lhes espaço para pensar, colaborar e inovar. Usamos a IA como uma ferramenta para desbloquear o potencial humano, não para substituí-lo.
Por isso, nosso foco está na IA responsável – usar dados e algoritmos de maneira transparente, ética e sempre centrada nas pessoas. Porque a tecnologia só tem verdadeiro valor quando ajuda as pessoas a realizarem seu melhor trabalho.
Existem programas internos de formação ou requalificação para preparar os colaboradores?
Sem dúvida. A aprendizagem faz parte do nosso ADN. Oferecemos treinamentos digitais e de dados, programas de liderança e oportunidades contínuas de aprendizado que fortalecem tanto a confiança quanto a competência. Mas, mais do que formação formal, estamos cultivando uma mentalidade de curiosidade. Encorajamos as pessoas a fazer pausas, a formular perguntas, a experimentar e a aprender colaborativamente.
Estamos também integrando momentos de reflexão em nossas rotinas, para valorizar o progresso, celebrar a aprendizagem e crescer em conjunto. Como um dos nossos programas de liderança recentemente nos lembrou: a transformação não é medida apenas pelo que alcançamos, mas por quem nos tornamos no processo.
