Zuzana Fabianová, natural da Eslováquia, chegou a Portugal em busca de um futuro e de um propósito que fizesse a diferença. Esse propósito manifestou-se na criação da Wondercom. Com isso, não só desenvolveu a empresa, como também se tornou uma líder que acreditou que «liderar não é saber tudo, é ouvir, confiar e fazer crescer os outros».
POR Ana Leonor Martins | FOTOS Nuno Carrancho
Tudo começou na Expo 98, e no ano seguinte, Zuzana deu vida à Wondercom. Com poucos recursos, mas «uma enorme vontade de fazer acontecer», hoje lidera uma empresa que alcança aproximadamente 41,6 milhões de euros em volume de negócios e conta com 600 colaboradores. Contudo, seu objetivo vai além de números: deseja «deixar um legado de confiança e de pessoas orgulhosas por serem parte desta história». Essa jornada, não planejada de início, tem sido «de trabalho, aprendizagem e gratidão», sempre pautada pela convicção de que a tecnologia só faz sentido «quando melhora a vida das pessoas». E essas pessoas são a essência da Wondercom.
Por que escolheu Portugal?
Vim para cá em busca de um futuro, embora não soubesse exatamente como seria, mas tinha a certeza de que queria construir algo que me desse propósito. Não trazia certezas, apenas um desejo intenso de criar uma vida com significado.
Portugal tornou-se o lugar onde encontrei oportunidades, desafios e pessoas que me fizeram crescer. Agora vejo que não procurava apenas um futuro, mas um caminho onde pudesse fazer a diferença. E isso encontrei aqui.
Tinha alguma ligação ao País?
Portugal surgiu quase por acaso, pois conheci um português que me trouxe até cá. O acolhimento foi especial; adorei a cultura, a maneira de viver e senti que poderia recomeçar aqui. É verdade que os primeiros tempos foram desafiadores, mas também muito enriquecedores.
Com o tempo, encontrei meu caminho e hoje considero Portugal minha casa, pois é aqui que cresci, tanto pessoal quanto profissionalmente.
O que foi mais difícil na adaptação?
A barreira da língua e a sensação de recomeçar do zero, sem uma rede de apoio. Esses momentos foram repletos de incerteza e solidão, mas também de grande crescimento pessoal. Aprendi a ser resiliente, paciente e a acreditar que o esforço e a dedicação, no final, trazem recompensas. Descobri que esses desafios foram fundamentais para me fortalecer.
E o que mais a marcou positivamente nos primeiros tempos?
Sem dúvida, o acolhimento das pessoas. Fiquei impressionada com a gentileza, empatia e abertura com que fui recebida. Portugal me proporcionou a chance de recomeçar, aprender e crescer. Essa proximidade humana me fez ter certeza, logo no início, de que estava no lugar certo para construir não apenas minha carreira, mas também uma conexão profunda com o país e sua cultura, que considero cada vez mais minha.
Existem muitas diferenças. Como compara as duas realidades? Quais são as principais diferenças entre os dois países?
A Eslováquia e Portugal são diferentes, mas ambos fazem parte de quem sou. A Eslováquia me deu raízes – disciplina, rigor, persistência – que são valores centrais na minha forma de trabalhar e liderar. Portugal, por outro lado, me deu asas – a capacidade de adaptação, a valorização das pessoas e a forma emocional e próxima de vivenciar o trabalho.
Na Eslováquia, as pessoas costumam ser mais reservadas, com foco forte na eficiência e organização. Já em Portugal, encontrei um ambiente mais caloroso e relacional, onde as decisões são tomadas tanto pela razão quanto pelo coração. Essa diferença me ensinou que o verdadeiro equilíbrio reside em unir a racionalidade à flexibilidade.
Hoje, acredito que carrego o melhor de ambos os mundos. A exigência e a determinação que vêm das minhas origens, combinadas com a paixão e a criatividade que encontrei em Portugal. Essa fusão, creio, é o que me define como líder e se reflete na maneira como a Wondercom opera: com ambição, porém sempre com alma.
Como se tornou CEO da Wondercom?
Tudo começou na Expo 98, onde trabalhei como hospedeira no stand da Eslováquia. Foi minha primeira experiência em Portugal, um momento simples, mas marcante, que me ensinou sobre o valor das oportunidades e a coragem de iniciar algo novo.
Pouco tempo depois, surgiu a chance de criar a Wondercom, um projeto que nasceu da determinação e desejo de inovar, e que só foi possível graças a empresas que acreditaram em nós desde o início. A Siemens foi a primeira a abrir suas portas, uma parceria que nos conferiu credibilidade, confiança e o impulso necessário para crescer. E hoje, quase 27 anos depois, continuamos a prosperar com o mesmo espírito de dedicação, inovação e proximidade que sempre nos guiou.
Nossa trajetória tem sido marcada por trabalho, aprendizagem e gratidão.
Leia a entrevista completa na edição de Outubro (nº. 178) da Human Resources.
