Por José Pedro Fernandes, vice-presidente da SISQUAL® WFM
Portugal enfrenta um momento crítico na área da saúde: há uma escassez de médicos e enfermeiros, e os que permanecem na profissão estão sobrecarregados. Isso resulta diretamente em um agravamento da saúde mental dos profissionais — que lidam com burnout e exaustão —, assim como dos cidadãos, que sofrem longas esperas por consultas e apoio psicológico.
Embora o aumento salarial e o recrutamento pontual sejam necessários, eles não resolvem o problema por si só. O verdadeiro desafio reside na organização do trabalho diário. Nesse contexto, as ferramentas de gestão de força de trabalho podem ser fundamentais: elas permitem prever necessidades, otimizar escalas, gerir ausências e reduzir burocracia, liberando tempo clínico e trazendo previsibilidade às equipas, o que contribui para um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
É igualmente crucial perceber que a saúde mental dos profissionais não é apenas uma consequência indireta, mas um ponto central da questão. Um sistema de saúde que não oferece condições dignas aos seus profissionais acaba por criar um ciclo vicioso, levando a mais baixas médicas, maior rotatividade, menor continuidade de cuidados e, em última instância, a uma queda na qualidade do atendimento aos cidadãos.
A implementação de modelos de gestão inteligentes pode também ajudar a atenuar desigualdades regionais. Em áreas onde a falta de profissionais é mais acentuada, uma melhor alocação de recursos e uma distribuição eficiente de turnos podem mitigar essa escassez. Portanto, o objetivo não é apenas “fazer mais com menos”, mas usar estrategicamente os recursos disponíveis, evitando desgastar ainda mais os que já estão na linha de frente.
Além disso, a introdução de ferramentas tecnológicas deve ser acompanhada de uma mudança cultural. É essencial que gestores e decisores compreendam que eficiência equaciona-se com equilíbrio. Um planejamento que respeite a vida pessoal dos profissionais é uma maneira de garantir maior motivação e evitar a migração para o setor privado ou para o exterior.
É importante ressaltar que investir em gestão de Recursos Humanos não significa menosprezar a dimensão humana do cuidado. Ao contrário, ao aliviar a carga burocrática e permitir uma organização mais justa do trabalho, abre-se espaço para que médicos, enfermeiros e técnicos se concentrem no que realmente importa: ouvir, acompanhar e tratar. A tecnologia deve ser encarada como um apoio à relação clínica, não como um obstáculo.
Por fim, cuidar de quem cuida é uma decisão que precisa ser assumida. Investir em gestão de Recursos Humanos é um compromisso com a dignidade de profissionais e utentes. A tecnologia, quando utilizada de maneira adequada, não substitui as pessoas; pelo contrário, protege-as, valoriza-as e proporciona-lhes melhor qualidade de vida.
