Por Sónia Pereira, consultora de Processos e Sustentabilidade na Yunit Consulting
O capital humano tem sido, há muito, o verdadeiro motor das empresas. No entanto, apenas agora, no contexto dos critérios ESG (Ambiental, Social e de Governança), começa a ser reconhecido como um ativo estratégico que impacta diretamente a competitividade, a reputação e a sustentabilidade dos negócios – especialmente nas PME, onde a proximidade e o capital relacional são vantagens naturais.
Atualmente, o “S” de ESG já não se restringe à responsabilidade social tradicional. Ele representa um pilar que abrange a forma como uma organização trata seus colaboradores, como se relaciona com as comunidades e como constrói uma cadeia de valor mais ética, justa e resiliente.
A transformação inicia-se “dentro de portas”. Criar condições de trabalho dignas, seguras e equilibradas, garantir oportunidades de desenvolvimento e promover culturas organizacionais baseadas no respeito e na inclusão são práticas que se transformam de “boas intenções” em indicadores de gestão. O bem-estar dos colaboradores impacta diretamente a produtividade, a inovação e a retenção de talentos, sendo especialmente relevante num cenário de escassez de Recursos Humanos e alta mobilidade profissional como o que vivemos atualmente.
Além disso, a performance social se torna um fator diferenciador no acesso a mercados, clientes e parceiros. Hoje, consumidores e investidores desejam saber quem está por trás dos produtos e, cada vez mais, cobram das empresas um tratamento adequado de suas equipes.
No caso das PME, essa dinâmica tem implicações muito concretas. Essas empresas não vivem apenas de balanços, mas sim de relacionamentos. Os laços com fornecedores, clientes e instituições locais são, frequentemente, o seu maior ativo. Assim, práticas como apoiar projetos sociais, priorizar fornecedores locais ou fomentar o emprego na região se transformam em ferramentas de valorização reputacional e na formação de cadeias de suprimento mais estáveis e alinhadas com os valores da empresa.
Nesse contexto, existem atualmente instrumentos públicos que as PME podem e devem utilizar para acelerar essa transformação. Portugal disponibiliza fundos europeus e programas nacionais – como o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e o Portugal 2030 – que incluem apoios diretos à capacitação das empresas nas áreas de responsabilidade social, igualdade de gênero, bem-estar laboral e inclusão. Esses incentivos representam uma oportunidade estratégica para alinhar propósito, performance e acesso a financiamento.
Dessa forma, o pilar social não pode ser visto como secundário em relação às preocupações ambientais ou de compliance. As empresas mais bem preparadas para o futuro são aquelas que valorizam e cuidam de suas pessoas, integrando isso em sua estratégia de negócio.
Em tempos de transformação, incerteza e aceleração tecnológica, o que permanece é a capacidade de atrair, motivar e desenvolver talentos. E essa é uma competência que se constrói todos os dias.
Investir no “S” é investir na base de tudo: nas pessoas que constroem, representam e fazem crescer as empresas.